terça-feira, 10 de março de 2009

12. À conversa com a Manuela Azevedo sobre a participação dos Clã

No sábado passado, ao fim do dia, estivemos em Vila do Conde com a Manuela Azevedo, para conhecer as perspectivas dos Clã quanto à sua participação no SXSW’09. Esta vai ser a sua primeira participação neste festival e à partida as referências que têm são ainda pequenas. “É a primeira vez que lá vamos e não sabemos bem o que esperar, embora o David (Fonseca) já nos tenha contado algumas coisas, e de sabermos que o concerto que vamos fazer vai ser uma coisa vertiginosa, pois temos muito pouco tempo para a montagem”.


A actuação que têm prevista para as 22h do dia 18, irá realizar-se num local particularmente curioso, numa igreja (Saint David’s Church). “Originalmente estávamos agendados para o Momo’s, mas depois mudaram-nos para a Igreja o que acabou por ser conveniente em termos de logística, pois eles têm lá um piano acústico. Só vamos levar uma guitarra acústica connosco e vamos poder experimentar um formato que já tínhamos experimentado num concerto especial no Teatro Circo (Braga) relacionado com o Tribunal do Iraque".

O modelo escolhido para a apresentação foi adaptado à realidade com que estão a contar e ao facto de este ser um ano de aprendizagem e experiência: “Vamos só eu, o Miguel e o Hélder, em trio. Piano acústico, guitarra e voz. Só vamos “meio-Clã” porque levar toda a gente era um investimento muito grande e era uma coisa muito complicada de se realizar com todo o material, havendo os limites de tempo de montagem e de desmontagem que eles impõem. Também por ser uma primeira experiência lá, vamos de uma maneira discreta”.


Estando Austin no meio do Texas, a curiosidade à volta de tudo o que representa, bem como o ambiente vivido na cidade durante estes dias é algo bem patente, bem como a vontade de assistir a muitas das actuações que por lá se irão realizar. Apesar do conservadorismo da região, o mote adoptado pela cidade nos últimos anos e o ambiente que por lá se vive é algo com que a Manuela se identifica facilmente: “Keep Austin weird… ah, então vou adorar a cidade… é um belo slogan! Estou muito curiosa com uma catedral feita de lixo de que nos falou o David Fonseca, um tipo que do lixo conseguiu fazer nascer num quintal uma catedral incrível”, uma referência à “Cathedral of Junk” que começou a ser construída em 1988 por Vince Hannemann.

O espírito de experimentação além-fronteiras é algo que não é novo aos Clã, “já há muitos anos que é vontade dos Clã passarem para lá das fronteiras do nosso pais, mas é sempre muito complicado pois depende do investimento da banda e também da disponibilidade pessoal. As nossas digressões em Portugal são sempre muito atarefadas e acaba por nos sobrar pouco tempo para investir noutros territórios”, “este ano, que estamos com a digressão um pouco mais tranquila, vai ser um ano de tentarmos pegar nesse investimento que já fizemos e explorar outros mercados. Austin é uma aventura. Não é que confiemos que é o mercado em que os Clã vão funcionar, mas…”.


A barreira linguística é algo que de imediato se questiona, ao pensar numa banda que canta em Português a apresentar-se em frente a um público e uma indústria que usa o inglês como língua universal, mas não é uma questão que seja estranha para os Clã: “essa é uma questão que nos colocam sempre quando falamos em internacionalização, mesmo que seja para outros pontos do mundo. Algumas pessoas apontam-nos o facto de cantarmos em português como sendo uma dificuldade, ou colocam a possibilidade de fazermos a tradução para outras línguas das nossas canções, mas a parte da tradução e da adaptação é sempre muito delicada. Recentemente fizemos um exercício de adaptação de uma canção nossa para espanhol, com um tradutor que também é actor. O resultado foi muito bom, porque ele teve não só o cuidado de escrever em bom Castelhano, mas de fazer uma adaptação do espírito da canção que resultasse musical e foneticamente bem na língua espanhola, e isso é uma coisa que nem sempre é fácil. Transpor canções nossas para inglês seria sempre um exercício muito mais complicado…”.

Este questão ganha um enquadramento diferente quando observada não na óptica da tradução e adaptação, mas da apresentação da música no seu formato original e cantada em português. “Nós temos sempre a sensação (não sei se será ingenuidade nossa e Austin poderá provar isso) que o facto de termos a língua que temos e ela ter a sonoridade que tem, trabalhada com o cuidado que gostamos de pôr no trabalho das nossas canções, acaba por lhes dar uma qualidade a que as pessoas, mesmo que não entendam logo o significado das palavras em si, serão sensíveis de alguma forma”.


Referências como o sucesso que os Sigur Rós vêm conseguindo obter, em que pouca gente sabe o que eles estão a dizer efectivamente, reforçam a crença que o poder da música está para além das palavras utilizadas para a preencher, “poderá até ser uma coisa meio encantatória… exactamente por isso vamos acreditando que pode ser uma possibilidade. Mesmo nós, como grandes consumidores de música cantada em inglês que somos, muitas vezes consumimo-la e somos completamente contaminados por ela independentemente de percebermos o que está nas palavras. Tem a ver com outro poder… com os sons das palavras e de alguma emoção que passa para além do seu significado”.

Existindo mercados como o da América Latina, com todo um mundo falado em Espanhol e em Português, esta questão linguística ainda pode ser considerada de outra forma diferente. “No nosso caso, o Brasil já é um território que não é propriamente desconhecido, ou onde não somos completamente desconhecidos. Já lá fomos tocar algumas vezes, mas principalmente porque temos feito algumas colaborações com o Arnaldo Antunes e com Pato Fu, coisas que têm criado alguns laços artísticos com criadores brasileiros”. Desses contactos, irá resultar a edição uma colectânea dos Clã, editada pela “Allegro Discos”, de Goiânia. “O Sandro Belo, dessa editora, tinha conhecido o nosso trabalho através do contacto com os Pato Fú. Tinha gostado muito do “Rosa Carne” e convidou-nos para fazer uma versão do tema “Torturas de Amor” de Waldick Soriano, uma canção romântica maravilhosa… e fomos os únicos Portugueses a ser convidados, os únicos intrusos na colectânea. Ele gostou muito do trabalho e acabou por nos desafiar a ser o primeiro número de uma colecção de colectâneas que ele vai fazer. Uma coisa chamada “Catalogue Raisonné”, onde faz um apanhado de várias bandas. Vai começar com uma banda portuguesa que são os Clã, o que é para nós muito simpático, muito importante.“


Em concordância com a lógica de primeira abordagem dos Clã ao SXSW, não será de esperarmos para este ano uma divulgação exaustiva desta sua presença em Austin, mas talvez até dia 18 de Março, ainda surja alguma surpresa com a sua visão particular sobre o que irá ser este Festival.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ora suponho que tenham incluído uma foto com o Filipe para provar que fizeram mesmo a entrevista :)E o belo do autógrafo, hein? Filipe, para a próxima, termina a entrevista dizendo "Tenho uma amiga, que costuma ir comigo aos concertos, que gosta muito do seu trabalho. Não se importa de lhe escrever uma dedicatória? O nome dela é Lena". Obrigadinha.

Anónimo disse...

Comentário sujeito à aprovação do proprietário do blogue?? Depois espantas-te que ninguém comente ;-)

Unknown disse...

Ah, ah, ah! Pronto, percebi o recado. Da próxima vez fazes tu as entrevistas e está já resolvido! ;-)

...não sou adepto de autógrafos, nem mesmo de aparecer nas fotografias... esta foi só para mostrar um pouco mais do ambiente da conversa! :-p

Infelizmente tive que activar a aprovação dos comentários por causa de SPAM que começou a aparecer aqui... :-(