quarta-feira, 11 de março de 2009

13. À conversa com a Rita Redshoes

Depois de termos estado no Sábado à noite com a Manuela Azevedo, em Vila do Conde, partimos a toda a velocidade para Vila Real onde fomos ter com a Rita Redshoes, após o concerto que ai realizou e uma sessão de autógrafos muito concorrida. Já passava da meia-noite e meia quando entrámos no Auditório Principal do Teatro de Vila Real e nos sentámos na Plateia a falar com a Rita.


A curiosidade e o espírito de aventura, em relação ao South by Southwest, em relação ao Showcase que vai dar, mas também em relação à América, são componentes que se destacaram ao longo de toda a nossa conversa, a que se junta uma postura muito “terra-a-terra” quanto à forma de concretizar essa presença e o retorno pessoal e profissional possíveis. “Eu confesso que estou bastante ansiosa porque acho que é uma aventura ir para a América tocar”. “Acho que vou numa perspectiva de aprendizagem pessoal e também ver o que é aquilo, porque acho que é um festival muito interessante e onde estão as bandas que serão a música do futuro, ou pelo menos deste próximo ano… os projectos que terão maior visibilidade a nível mundial. É por isso uma grande honra poder lá estar”. “Da sensação que tenho de conversar com o David, é interessante a forma como mesmo os nomes grandes, de repente vão ali sozinhos com uma perspectiva muito simples da sua música, e as soluções que musicalmente arranjam”.

As condicionantes impostas pelo modelo que o SXSW utiliza, bem como o investimento necessário para concretizar a presença em Austin, tornou necessário repensar a forma como a apresentação ao vivo se irá realizar. “Nas condições que teremos, não será possível levar banda, não é possível levar um espectáculo. Aliás o espírito do Festival nem sequer é esse”, “quase todos os espectáculos são diminutos em termos de número de elementos. Isso fez com que tivesse que abordar as músicas de maneira completamente diferente do que faço num espectáculo, normalmente, e estou expectante”. “Na semana passada estive em ensaios, e como o David também vai, faz todo o sentido aliarmo-nos e fazermos qualquer coisa em conjunto. Eu vou tocar com ele e ele depois toca as minhas músicas comigo. É óbvio que as músicas vão ser despidas, vão ter uma roupagem diferente. Estivemos a ver que instrumentos usar e como fazê-lo visto que somos só dois. Como é que nos desdobramos de forma a que as músicas também não fiquem deturpadas” .


O facto do concerto ir ser remontado numa lógica de ter apenas duas pessoas a tocar, é por si só uma experiência positiva. “É um grande desafio fazer isto e abordar as músicas de forma diferente, o que é um bom exercício para mim e tem sido interessante. Temo-nos divertido bastante, eu e o David, a experimentar… agora vamos meter este pedal aqui para parecer-mos mais… mais um loop… agora vamos usar esta caixa de ritmos… tem esse lado divertido”.

A motivação para a escolha de participar este ano no South by Southwest, surgiu como algo natural e até um pouco inesperado. “Eu não pensei muito nisso, nem pus em questão porque achei até que não ia ser escolhida. Portanto disse “Mandamos e pronto, depois logo se vê. No meio de tanta gente…” e quando fui seleccionada, só ai é que comecei a cair em mim”. “Vejo como um processo de aprendizagem, mais pessoal do que propriamente outra coisa, dai que não lhe dou o peso de ter que vir de lá com contratos e resultados. Acho que mais vale ir com espírito de trabalho, de tentar descobrir, de ir e tentar mostrar o máximo de coisas possível, mas também com os pés assentes na terra”.


Num festival que contará com a presença de quase duas mil bandas, no meio das quais estarão algumas das que se irão destacar com maior força nos próximos anos, as expectativas são limitadas, não impedindo no entanto que um brilho nos olhos e um sorriso surjam sempre que é referida a possibilidade de poder dar mais um passo em frente na sua carreira. “Embora a América seja um bocadinho a terra onde os sonhos acontecem, sejamos realistas, é difícil qualquer coisa acontecer. Não espero que nada aconteça, nem que nenhum sonho se realize, mas posso ter essa sorte”. Uma abordagem empenhada e profissional, é algo que de uma forma ou de outra está subjacente. “Questionei-me da utilidade deste investimento para um projecto como o meu, porque aquilo que se vai mostrar não é o disco… não é um espectáculo normal”, pelas limitações já indicadas. Mas ainda assim, “estão a fazer-se alguns contactos no sentido de ver se alguns nomes, alguns contactos, podem assistir ao espectáculo”.

“Ir a um festival é um investimento de qualquer das formas. Dado que o Estado português não ajuda em nada, é um investimento nosso”, surge como desabafo face à falta de apoio para divulgação no estrangeiro da música portuguesa. “Nós temos sempre uma perspectiva muito reduzida em relação às coisas que fazemos. Por exemplo, quando o David lá esteve, creio que era a Suécia que tinha o Estado representado lá, e tiveram um dia da Suécia”, sendo de referir que este ano, também a Espanha tem diversas iniciativas previstas para promoção dos seus músicos no Festival. “Eu tenho imensa pena, mas isso é geral, não é só uma questão do South by Southwest. Acho que o estado não apoia pura e simplesmente o exportar do produto nacional. É impossível um projecto como o meu, ou mesmo para o David, suportar um Tour lá fora”.

Sendo a Internet um meio de divulgação relativamente acessível, que poderá de alguma forma estar a ser descurado pela industria musical, com uma excessiva concentração no MySpace, a sua opinião foi contrária. “Na indústria as coisas não se processam dessa forma. O MySpace é uma bela ajuda. É fechado mas o meio musical, mesmo editoras, pessoas interessadas e managers, estão muito atentos”. “Mesmo no site (do SXSW’09) e nos outros sites que têm feito sobre o South by Southwest, toda a gente tem MySpace, é raro porem o site da banda, quase que caiu em desuso. É uma questão de aposta, tem-se ali de tudo.”


Os concertos que compõem o South by Southwest são maioritariamente de muito pequena dimensão, e a incógnita da receptividade que irá ter por parte do público está presente. O paralelismo é feito com a experiência que teve em Groningen, no Festival Eurosonic. “Tive a experiência em Janeiro, de ir à Holanda a um festival. Obviamente que é diferente, não estamos em casa, a língua não é a mesma e por muito que uma pessoa tenha algum “à-vontade” com a língua, nunca é a mesma coisa, ou seja, não temos ninguém do nosso lado… não entramos e está ali alguém que conhece a nossa música, portanto tem que ser uma conquista ou não”. Ainda sobre a comparação de Groningen com o SXSW, “as condições são diferentes. Lá fui com banda e ali não vou. Era um Teatro pequenino, muito bonito e as condições eram diferentes, embora também com aquele espírito de Festival, têm 20 minutos para fazer tudo!”.

Em Dezembro assistiu em Lisboa ao Festival Superbock em Stock, que partiu do mesmo conceito de base do SXSW, e em que o ambiente que se vive nos concertos deverá ser semelhante. “Está tanta coisa a acontecer, as pessoas circulam. Eu acho que estes festivais são um bocadinho ingratos no sentido em que, para quem está em cima do palco, a facilidade do entra e sai é sempre estranho. Eu gostei muito do festival (Super Bock em Stock) mas para quem está em cima do palco, em sítios pequeninos, sente-se muito a movimentação”.

Enquanto espectadora, a sua opção recai em escolher que concertos quer assistir,mais do que ver um pouco de todos. “Como ao mesmo tempo estão a acontecer coisas que se quer ver, acho que é aquela sensação de querer ir ver um bocadinho de tudo. Acabamos por quase não ver nada. Eu optei por “vou ver este Artista e este, e pronto”. É o melhor”. Concretamente sobre o SXSW, já tem algumas ideias sobre o que quer ir ver, mas terá ainda que planear de forma mais concreta. “Ainda estou a tentar fazer a minha agenda, tentar fazer uma escolha daquilo que eu quero ir ver. Acho que vai haver coisas interessantes e importantes de ir ver, mas ainda não sei bem. Queria ver alguns projectos… gostava muito de ir ver Beach House, e a PJHarvey toca no meu dia lá”.


O concerto da Rita está prevista para a meia-noite de Sábado (21 de Março), e irá realizar-se no “Ace’s Louge”. “Estou contente pelo dia e pelo sítio em que toco porque acho que tive sorte… mas obviamente que mete algum respeito quanto mais não seja porque, atravessamos (o Atlântico) para fazer qualquer coisa em 45 minutos”. Para além do Showcase que tem previsto, mais algumas apresentações poderão ainda concretizar-se, embora nada esteja fechado para já. “Há uns contactos de umas rádios, e algumas entrevistas, mas também ainda não sei bem ao certo”. A divulgação no local está a ser considerada procurando deixar a sua marca pessoal pelo SXSW, “o David fez uns flyers na altura, e isso eu conto fazer. Claro que vamos levar discos e Singles e tentar um bocadinho espalhar a coisa. Acho que vou fazer uns flyers em forma de sapatinho, pelo menos são diferentes. Pode ser que alguém repare…”.

A difusão da sua presença no SXSW para Portugal, deverá passar maioritariamente pela internet, embora de forma diferente da que o David Fonseca realizou nos últimos dois anos. “Nesse aspecto é óbvio que vou tirar imensas fotografias e gostava de fazer um diário, que provavelmente publicarei no meu blogue, mas mais do que isso não. Acho que é uma visão muito pessoal, o que é também uma boa perspectiva do que vai acontecer ali, como é que eu vejo isso para mim, do estar lá e do ver o que é a América e a música… todo o lado conservador deles ao mesmo tempo”. Ao ser referido que, talvez o ex-presidente dos EUA, George Bush, pudesse estar no Texas por altura do Festival, eventualmente em Austin, a resposta não se fez esperar acompanhada de uma sonora gargalhada: - “pode ser que ainda o vejamos a passar por lá. Eu gostava muito de ver o Bush no meu Showcase… porque não?”, mas perante a sugestão de utilizar algo que o substituísse, a escolha foi outra, “hummm, uma moldura talvez…não, para isso punha o Barack Obama!”.


Foi já perto da uma da manhã que terminámos a conversa com a Rita, abordando a possibilidade de outras presenças fora de Portugal. “Não há nada ainda em concreto, mas estamos a fazer várias tentativas mais a nível europeu do que propriamente EUA. Mas é minha intenção tentar contratos com editoras lá, tentar distribuição e concertos, não é muito simples mas vai-se tentar”.

Aproveitem para ver no próximo Sábado o novo vídeo da Rita Redshoes “Choose Love”, como antecipação à sua presença no festival South by Southwest. [2009-03-11 NR. No entretanto a Rita antecipou-se e o video já está hoje disponível! Vejam um dos próximos Posts.]

5 comentários:

zequinhas disse...

olá Filipe,

Como sabes tenho acompanhado as "crónicas" desde o seu início.

Acho que teem feito um excelente trabalho. Pessoalmente, agradeço o facto de me terem posto diariamente a par de todas as novidades do SXSW, tem sido fantastico acompanha-los nas vossas viagens, e é de louvar todo o trabalho que teem feito.

Esta entrevista é uma prova que não se limitaram a "passear" atrás dos artistas que nos representam em Austin.

Parabéns ao Miguel pelas fantásticas fotos.

Gostei muito desta entrevista, sobretudo porque adoro a Rita, e sou um fã incondicional.

Se não te importasses, gostaria de colocar o link para esta entrevista em particular e também o link do proprio blog "Cronicas de Austin" no forum da Rita Redshoes (http://www.ritaredshoes.org), o qual tenho todo o prazer que visites, lá temos um topic para o SXSW.

Um grande abraco a todos.

zequinhas disse...

Aqui está o link do tópico em questão:
http://www.ritaredshoes.org/forum/viewthread.php?tid=42&page=2#pid2630

Já lá divulguei o teu excelente trabalho

;P

zequinhas disse...

Aqui está o link do tópico em questão:

http://www.ritaredshoes.org/forum/viewthread.php?tid=42&page=2#pid2630

Já lá divulguei o vosso excelente trabalho

;P

Unknown disse...

Muito Obrigado! Vou visitar concerteza!

Ana disse...

miguel rosenstok, peço desculpa pela utilização da foto em questão mas foi-me fornecida por um amigo e como deve imaginar não sabia como pedir autorização. Mais uma vez as minhas desculpas. E já agora é uma excelente fotografia.

Ainda bem que gostou do blog.
Também fiquei interessada nas crónicas.

Ana